Economia em Mudança

29.10.2025
Banner corporativo do BBVA Consumer Finance com fundo azul. À direita, um homem de fato cinzento e camisa escura posa com os braços cruzados, transmitindo confiança e profissionalismo. O logótipo do BBVA Consumer Finance aparece à esquerda.

António Ramalho Correia, Diretor BBVA Consumer Finance 

 

Entre poupar e gastar, o equilíbrio possível 

Numa época de incerteza e de consumo acelerado, o equilíbrio entre poupar e gastar tornou-se um dos maiores dilemas do nosso tempo. Gerir o dinheiro, hoje, é mais do que uma questão de números. Tem claramente uma nova dimensão - é um exercício de lucidez, disciplina e adaptação às rápidas mudanças da economia.

Um dilema contemporâneo 

A economia europeia tem atravessado, nos últimos anos, um período de forte instabilidade. A subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu, necessária para conter a inflação, encareceu o crédito e pressionou o orçamento das famílias endividadas. Por outro lado, criou um incentivo à poupança - embora o rendimento disponível tenha encolhido, afetado pela perda de poder de compra. O cenário atual obriga a uma gestão mais rigorosa das finanças públicas e privadas. A volatilidade dos preços, as oscilações nos juros e a digitalização crescente dos serviços financeiros alteram profundamente a relação das pessoas com o dinheiro. O antigo dilema entre poupar e endividar-se ganhou novas nuances. Se antes a poupança era sinónimo de prudência e o crédito era visto com desconfiança, hoje ambos coexistem num quotidiano financeiro mais ágil, mas também mais arriscado. E quando o equilíbrio se perde, os efeitos não tardam: excesso de crédito gera endividamento; poupança excessiva retrai o consumo e trava o crescimento económico.

Poupar: cada vez mais difícil 

Ter uma reserva financeira é, mais do que nunca, sinónimo de estabilidade. Significa poder enfrentar imprevistos e preparar o futuro com serenidade. Mas poupar tem-se tornado um exercício cada vez mais exigente. O custo de vida não para de aumentar, os salários mantêm-se historicamente baixos e a cultura de consumo imediato – hoje muito amplificada pelas redes sociais e pelo crédito fácil – dificultam a criação de poupança sustentável. Mesmo quem consegue economizar enfrenta um dilema adicional: a rentabilidade limitada das aplicações tradicionais, que na maioria das vezes, perde claramente para a inflação. Hoje, poupar requer estratégia, planeamento e um olhar atento sobre onde e como aplicar cada euro.
 

Crédito: entre oportunidade e armadilha 

O crédito é uma ferramenta poderosa. Pode abrir portas à educação, à habitação, ao investimento e ao empreendedorismo. No entanto, o seu uso indiscriminado - somado à fraca literacia financeira - tem conduzido milhões de pessoas ao sobre-endividamento. A fronteira entre o crédito saudável e o perigoso é ténue. Quando serve para criar valor ou ampliar oportunidades, pode gerar retorno e crescimento. Mas quando responde apenas a impulsos de consumo, transforma-se rapidamente em fardo.

Educação financeira: a base do equilíbrio 

Mais importante do que cortar despesas ou renegociar dívidas, o equilíbrio financeiro começa pelo conhecimento. A educação financeira deve ser um desígnio nacional - nas escolas, nas empresas e nas políticas públicas. Compreender conceitos como o custo total de um empréstimo, a diferença entre taxa nominal e efetiva ou o impacto da inflação nas poupanças é essencial. São noções simples, mas decisivas, para evitar decisões precipitadas. As instituições financeiras também têm responsabilidades acrescidas. Num contexto em que o crédito instantâneo e as plataformas digitais tornam o dinheiro mais acessível do que nunca, a transparência e a orientação ao cliente são indispensáveis.

Um novo olhar sobre o dinheiro 

Num mundo em constante mutação, poupar e endividar-se deixaram de ser realidades opostas. São, na verdade, duas faces de uma mesma moeda. O desafio está em usar o dinheiro como instrumento de liberdade - não de dependência. Encontrar o ponto de equilíbrio é aprender a viver o presente sem hipotecar o futuro. É um exercício coletivo, que exige responsabilidade individual, literacia financeira e políticas públicas capazes de tornar o sistema mais justo e sustentável. Em tempos de incerteza, a prudência é essencial; em fases de crescimento, o investimento consciente pode ser o motor do progresso. Entre o impulso de gastar e a necessidade de poupar, a chave está na gestão inteligente e na visão de longo prazo. Porque, no fim, o verdadeiro poder financeiro não está no quanto se tem, mas em como se decide usar.

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